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sábado, 28 de agosto de 2010

O efêmero e o eterno


O que  consiste a realidade? A criação racional  de conceitos ou a mera experiência  sensitiva dos fenômenos? Será que me apeguei demais a palavra, a ferramenta do universal por excelência?
É sabido por muitos, mesmo que como forma de pré-compressão , que quando atingimos o conceito  ultrapassamos o tempo e o lugar individual, atingimos todas a cabeça de todos os homens, de todas as épocas, mesmo com as corruptelas históricas do conceito usado.Mas isso também não ocorre com as sensações? Sim, a dor ou a euforia  sentida por um medieval é o mesmo sentimento que me ocorre , no entanto estas sensações são irremediavelmente intercambiáveis, só se pensa nelas, e possibilita sua troca pelo conceito, mesmo no caso em que uma obra de arte é fruída anos depois de sua realização, só sei o que me ocorre durante a apreciação de um quadro ou uma música quando meu sentimento é pensado...horror, tranqüilidade, alegria etc.
Mas afinal o que quero com todas estas divagações? Analisar minha época com o olhar melancólico do passado? Não ,observar um movimento que sempre existiu e claro não poderia deixar de se realizar nos dias atuais, mas com uma exacerbação inacreditável... a universalização do efêmero.
 A sacralização do momentâneo parece ser o regente de nossa época, e não sei bem se isso é fruto da rapidez das informações ( sim ,também posso ser clichê) ou se foi esta sacralização mesma que gerou a rapidez de tudo que se faz. Sempre tive o espírito velho para tudo isso, logo eu, que corro o dia todo e me inseri nesta lógica sem  resistência.
A busca de alicerces para construções sólidas demanda tempo, demanda mais que sensações de prazer ou desprazer, demandam crenças, e crenças são construídas através de conceitos, que por sua vez busca certa universalidade. Nunca negarei a necessidade do prazer no que se realiza ou se quer realizar, isso é desumano demais para mim, mas o que digo – e não pretendo ser uma conservadora aos 24- é que,  intrigada com minha geração e assustada com a geração porvir, não vejo nada além de pessoas engajadas no aqui e agora, absolutamente despreparadas  a construir sua presença no mundo para o depois ( sei que isso desemboca em um julgamento de valor- isso é outro assunto) , estão mais preocupadas em construir algo a ser visto aqui e agora, e isso me parece tão despropositado, tão animal....uma existência sem propósito, tornando real apenas o que é visto no momento em que é feito, meios  desgarrados de finalidade.Pois a finalidade é ser visto, e o meio? O que as pessoas querem ver.
 Minha lógica é outra, minha finalidade é criar o que parece ser bom aqui ou daqui alguns  anos , e neste  movimento preciso de conceitos , preciso acreditar no que é realmente bom, o que realmente fica .É tentar construir formas as quais serão necessárias ao porvir. E o que sei eu sobre o que será necessário no porvir? Absolutamente nada, mas o que vale uma vida em  que crenças não possam ser construídas? Em que uma vida individual vale seu instante? Ciente da criação, ciente da arbitrariedade da criação da própria vida como meta e valor!
Quero fazer do momento finito que me é dado nesta história um momento universal. Quero que minha criação torne-se essencial, quero essa loucura de unir o efêmero de minha vida com a totalidade humana  dentro da história.
Quem não viver, verá......

sábado, 14 de agosto de 2010

A sede de tudo

A porta se abre, leva a outra porta... um corredor ,ou melhor, uma relação sem forma, apenas caminhos .... tomamos conciência após tanta maçaneta que as trancas são infinitas e que Sísifo somos nós....e a estrada amorfa se forma em nós, em mim.
Ai... essa finitude, esse limite de ser gente...
Mas além de abrir portas deve-se comer e se lavar, a natureza é inflexível, campo do necessário.. As portas devem ser abertas mais rápido antes de nossa morte e começam a ficar todas iguais provocando a vertigem, provocando a estafa.
Queria ler todos os textos bobos do mundo, queria ver todo tipo de imagem existente, queria viver da palavra, alimentar meu corpo com rabiscos..mas o que me ofereçe a realidade? Prédio concreto concreto prédio carro rua buzina esquina...sono...sonho..palavra....despertador Prédio concreto concreto prédio carro rua buzina esquina...

A cidade se faz bela pela indiferença  com que recebe seus moradores, as ruas só contam a história de quem não as construiu..... não conheço nenhuma rua com o nome da mão suada de quem passou o cimento e calçou a pedra na calçada.