O que consiste a realidade? A criação racional de conceitos ou a mera experiência sensitiva dos fenômenos? Será que me apeguei demais a palavra, a ferramenta do universal por excelência?
É sabido por muitos, mesmo que como forma de pré-compressão , que quando atingimos o conceito ultrapassamos o tempo e o lugar individual, atingimos todas a cabeça de todos os homens, de todas as épocas, mesmo com as corruptelas históricas do conceito usado.Mas isso também não ocorre com as sensações? Sim, a dor ou a euforia sentida por um medieval é o mesmo sentimento que me ocorre , no entanto estas sensações são irremediavelmente intercambiáveis, só se pensa nelas, e possibilita sua troca pelo conceito, mesmo no caso em que uma obra de arte é fruída anos depois de sua realização, só sei o que me ocorre durante a apreciação de um quadro ou uma música quando meu sentimento é pensado...horror, tranqüilidade, alegria etc.
Mas afinal o que quero com todas estas divagações? Analisar minha época com o olhar melancólico do passado? Não ,observar um movimento que sempre existiu e claro não poderia deixar de se realizar nos dias atuais, mas com uma exacerbação inacreditável... a universalização do efêmero.
A sacralização do momentâneo parece ser o regente de nossa época, e não sei bem se isso é fruto da rapidez das informações ( sim ,também posso ser clichê) ou se foi esta sacralização mesma que gerou a rapidez de tudo que se faz. Sempre tive o espírito velho para tudo isso, logo eu, que corro o dia todo e me inseri nesta lógica sem resistência.
A busca de alicerces para construções sólidas demanda tempo, demanda mais que sensações de prazer ou desprazer, demandam crenças, e crenças são construídas através de conceitos, que por sua vez busca certa universalidade. Nunca negarei a necessidade do prazer no que se realiza ou se quer realizar, isso é desumano demais para mim, mas o que digo – e não pretendo ser uma conservadora aos 24- é que, intrigada com minha geração e assustada com a geração porvir, não vejo nada além de pessoas engajadas no aqui e agora, absolutamente despreparadas a construir sua presença no mundo para o depois ( sei que isso desemboca em um julgamento de valor- isso é outro assunto) , estão mais preocupadas em construir algo a ser visto aqui e agora, e isso me parece tão despropositado, tão animal....uma existência sem propósito, tornando real apenas o que é visto no momento em que é feito, meios desgarrados de finalidade.Pois a finalidade é ser visto, e o meio? O que as pessoas querem ver.
Minha lógica é outra, minha finalidade é criar o que parece ser bom aqui ou daqui alguns anos , e neste movimento preciso de conceitos , preciso acreditar no que é realmente bom, o que realmente fica .É tentar construir formas as quais serão necessárias ao porvir. E o que sei eu sobre o que será necessário no porvir? Absolutamente nada, mas o que vale uma vida em que crenças não possam ser construídas? Em que uma vida individual vale seu instante? Ciente da criação, ciente da arbitrariedade da criação da própria vida como meta e valor!
Quero fazer do momento finito que me é dado nesta história um momento universal. Quero que minha criação torne-se essencial, quero essa loucura de unir o efêmero de minha vida com a totalidade humana dentro da história.
Quem não viver, verá......