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sábado, 13 de novembro de 2010

A vida autêntica e seu contrário

Todo dia o falatório grita mais alto, e o próprio se esvai na inautenticidade, no impróprio que são eles, porque o próprio não parece digno de valor ( Mas o que estou escrevendo? Essas palavras são eles, e o valor é deles). Mas é possível desviar-se, podemos flutuar sobre eles quando quisermos. Imperador de si mesmo, no reino da História, da própria história para a morte, anímico para além da mera reação. Sejamos o aí, o presente não estático, que a angústia construiu e desenhou com traços perfeitos.

E o Direito? Falatório também, discurso impróprio, mera técnica...., não é minha construção para...., mas saber disto criou em mim a melhor postura possível, misturei o alemão,o francês e o romano : compreendi o fenômeno , me adaptei de forma charroniana - o qual pareço compartilhar com eles o que é deles (nunca fui muito de chocar)-educando o espírito para a imperturbabilidade.

O porto não é seguro, é de madeira gasta e mofada, mas é belíssimo, como deveriam ser todos os portos, porque aquilo que deveria configurar portos não é o signo da chegada - como eles ( os inautênticos) pensam -mas sim a abertura ao mar , às possibilidades de partida, de transfiguração e de história.

sábado, 23 de outubro de 2010

Pessoal

Todas as certezas que foram construídas nestes últimos anos não foram reiteradas hoje. Você não tinha um revólver, muito menos as balas. Eu estava enganada, quem atirou em mim foi meu espelho convicto, minha certeza. Foi você que me salvou naquele campo, e eu tinha a certeza que você que tinha me ferido.


Por algum motivo os médicos não conseguiram retirar as ligas de chumbo. Havia também, além da liga, um líquido que espalhou pelo sangue, uma espécie de veneno que corrompeu as idéias e a alma. E pensar que desde o início era eu....

Desculpe se me feri desde o começo, mas ainda é minha alma e ela está contaminada, me infectei de uma doença crônica cuja imaginação produziu os piores delírios.... Infelizmente o conhecimento da doença não traz a cura, e tive que me afastar porque os delírios voltam a cada minuto na sua presença . Não parece justo, nem para mim.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A vida como recorte

Sempre me incomodei com a prática científica que consiste na pretensão de recortar a realidade, transformá-la em teoria para explicar essa mesma realidade. Essa tentativa me parece tão contraditória como tentar explicar o comportamento humano através da observação de um só homem.
Este incômodo estendido à vida , às nossas perspectivas me remeteu diretamente a tomada de posição . Posicionar-se sobre qualquer que seja o assunto; Direito, política, filosofia, estética etc.Sempre cobrei pureza ao me posicionar, sempre quis de mim um conhecimento absoluto do fato,da tese... de suas contradições, contra posições, consequências e fundamentos.O posicionar-se é definir-se ante as coisas e os seres, é escolher aquilo que lhe parece mais verdadeiro, melhor ( porque também inclui valor e moral - mas isso é outro assunto). Quando nos posicionamos definimos quem somos, e sempre trabalhei para que o meu posicionamento fosse o mais coerente e fundamentado possível. No entanto ( pode começar uma frase com "No entanto"? sou péssima em regras gramaticais), percebi que essa pureza é impossível, e depois de grande resistência procuro em quê me definir, qual minha postura diante do Direito, qual minha inclinação política, minha postura filosófica e meu julgamento acerca do belo.
Não sinto de forma alguma que isso seja uma espécie de derrota, mas uma permissão humana cuja prática tende a ser mais enriquecedora do que a negação de perspectiva.
A definição do meu olhar não é rígida por ter assumido um foco, antes é esse ponto que me fará observar o entorno, que me dará a perspectiva necessária para que eu note o conjunto do enquadramento. O posicionamento é um recorte, mas quando flexível,  me fornece a identidade fazendo com que eu note a diferença. Um processo de desenvolvimento constante que abole a alma à deriva.

* Essa divagação toda começou devido a uma frase que li pichada no muro de um viaduto na Av. Antônio Carlos em BH em um dia de congestionamento : "A pureza não existe". Fica aqui minha homenagem ao pichador desconhecido!
* Também me fez lembrar de escrever este post uma frase do meu antigo professor de Filosofia do Direito no twitter!

sábado, 28 de agosto de 2010

O efêmero e o eterno


O que  consiste a realidade? A criação racional  de conceitos ou a mera experiência  sensitiva dos fenômenos? Será que me apeguei demais a palavra, a ferramenta do universal por excelência?
É sabido por muitos, mesmo que como forma de pré-compressão , que quando atingimos o conceito  ultrapassamos o tempo e o lugar individual, atingimos todas a cabeça de todos os homens, de todas as épocas, mesmo com as corruptelas históricas do conceito usado.Mas isso também não ocorre com as sensações? Sim, a dor ou a euforia  sentida por um medieval é o mesmo sentimento que me ocorre , no entanto estas sensações são irremediavelmente intercambiáveis, só se pensa nelas, e possibilita sua troca pelo conceito, mesmo no caso em que uma obra de arte é fruída anos depois de sua realização, só sei o que me ocorre durante a apreciação de um quadro ou uma música quando meu sentimento é pensado...horror, tranqüilidade, alegria etc.
Mas afinal o que quero com todas estas divagações? Analisar minha época com o olhar melancólico do passado? Não ,observar um movimento que sempre existiu e claro não poderia deixar de se realizar nos dias atuais, mas com uma exacerbação inacreditável... a universalização do efêmero.
 A sacralização do momentâneo parece ser o regente de nossa época, e não sei bem se isso é fruto da rapidez das informações ( sim ,também posso ser clichê) ou se foi esta sacralização mesma que gerou a rapidez de tudo que se faz. Sempre tive o espírito velho para tudo isso, logo eu, que corro o dia todo e me inseri nesta lógica sem  resistência.
A busca de alicerces para construções sólidas demanda tempo, demanda mais que sensações de prazer ou desprazer, demandam crenças, e crenças são construídas através de conceitos, que por sua vez busca certa universalidade. Nunca negarei a necessidade do prazer no que se realiza ou se quer realizar, isso é desumano demais para mim, mas o que digo – e não pretendo ser uma conservadora aos 24- é que,  intrigada com minha geração e assustada com a geração porvir, não vejo nada além de pessoas engajadas no aqui e agora, absolutamente despreparadas  a construir sua presença no mundo para o depois ( sei que isso desemboca em um julgamento de valor- isso é outro assunto) , estão mais preocupadas em construir algo a ser visto aqui e agora, e isso me parece tão despropositado, tão animal....uma existência sem propósito, tornando real apenas o que é visto no momento em que é feito, meios  desgarrados de finalidade.Pois a finalidade é ser visto, e o meio? O que as pessoas querem ver.
 Minha lógica é outra, minha finalidade é criar o que parece ser bom aqui ou daqui alguns  anos , e neste  movimento preciso de conceitos , preciso acreditar no que é realmente bom, o que realmente fica .É tentar construir formas as quais serão necessárias ao porvir. E o que sei eu sobre o que será necessário no porvir? Absolutamente nada, mas o que vale uma vida em  que crenças não possam ser construídas? Em que uma vida individual vale seu instante? Ciente da criação, ciente da arbitrariedade da criação da própria vida como meta e valor!
Quero fazer do momento finito que me é dado nesta história um momento universal. Quero que minha criação torne-se essencial, quero essa loucura de unir o efêmero de minha vida com a totalidade humana  dentro da história.
Quem não viver, verá......

sábado, 14 de agosto de 2010

A sede de tudo

A porta se abre, leva a outra porta... um corredor ,ou melhor, uma relação sem forma, apenas caminhos .... tomamos conciência após tanta maçaneta que as trancas são infinitas e que Sísifo somos nós....e a estrada amorfa se forma em nós, em mim.
Ai... essa finitude, esse limite de ser gente...
Mas além de abrir portas deve-se comer e se lavar, a natureza é inflexível, campo do necessário.. As portas devem ser abertas mais rápido antes de nossa morte e começam a ficar todas iguais provocando a vertigem, provocando a estafa.
Queria ler todos os textos bobos do mundo, queria ver todo tipo de imagem existente, queria viver da palavra, alimentar meu corpo com rabiscos..mas o que me ofereçe a realidade? Prédio concreto concreto prédio carro rua buzina esquina...sono...sonho..palavra....despertador Prédio concreto concreto prédio carro rua buzina esquina...

A cidade se faz bela pela indiferença  com que recebe seus moradores, as ruas só contam a história de quem não as construiu..... não conheço nenhuma rua com o nome da mão suada de quem passou o cimento e calçou a pedra na calçada.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Tudo em mim

Luzes e fumaça, teoria e prática, desejo e raiva
Solidão e loucura/Casa e rua
Não, isso não é um poema...
palavras randômicas procurando sentido, não em mim.....em você.
Veneno, vermelho, batom e unhas
piedade, sabor , perdão
frio, vento, tosse
calor, suor e cheiro.

Lugar, lar, lá
Vida, aqui, já!

Respiração,calma e sofá
Pulmão, ânsia, rua.

Sem desculpas, sem piedade, sem culpa...

sábado, 17 de julho de 2010

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Pele

“Se nas entranhas riqueza desejar teu ânimo,
assim faze: trabalho sobre trabalho trabalha.”

Os Trabalhos e os Dias
Hesíodo

Sempre desconfiei na concepção comum que quem muito diz pouco tem a dizer, ou ainda sua necessária consequência que escutar é a postura mais sábia, pois, essa sabedoria ignora o falar consigo,e por pouco que sei ,existem muitas formas de dizer.Nesses vinte e poucos anos a subjetividade ,o dizer a si mesmo, tem sido realizada em janelas de ônibus, na velocidade ditada por marchas mecânicas. O tempo não é mais meu, ele foi tomado à força pela necessidade de vida. A jovialidade - em sentido nietzschiano- , a imprevisibilidade, cedeu lugar ao pragmático, a literatura foi sufocada pela técnica.
 
A energia guardada em horas de concentração....  mal sabe as instituições que minha pele exala dança, suor e música.Que as marcas de minhas costas é o grito de um animal preso por convenção..ai, mal sabem o que é viver para torna-se, forma-se pela contigência de uma nota dissonante... mal sei eu que minha mão é o espelho perfeito, meu termômetro, meu oráculo pessoal.Portanto o que faço eu aqui nessa cadeira de madeira morta? Faço o tempo rir de mim enquanto escuto elogios de minha falsa saúde e sobriedade.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Então...



Afinal de que vale este cançasso


o inchaço

e a ânsia?



De que falamos quando perdemos tempo?

Em que tempos estamos quando apenas somos?

Que dia te vejo, qual hora te enxergo?

Quantos minutos tenho quando volto para dentro?



Afinal de que vale correr para depois me calar

e parar

e gritar?



O que fazemos quando acaba a graça?

O que desejamos quando não há liberdade?

Fazer um mosaico do que sobrou dos cacos?

Riscar mais um traço,
Ou bordar novos laços?

terça-feira, 29 de junho de 2010

Meu amigo



Meu amigo,



Sei o que tu fazes quando dá passos largos para disfarçar a perna torta,


Quando cria ídolos para justificar ser médio,
Quando faz grandes planos para explicar a falha,
Quando ama menos para não desconcerta-se diante a perda,
Quando se auto ridiculariza para não ser posto à prova,
Quando choras para não explicar os erros.
Quando ri de si mesmo para justificar o riso do outro.


Sei o que fazes porque exala humanidade, pobre de nós, coagidos a maximizar nossas mentes enquanto condenamos nosso corpo pelo seu pecado de não ser eterno e perfeito.

Os púlpitos para a transcendência são degraus para a trágica busca pela ordem, a perfeição é a melhor criação humana.


Segure minha mão que te acompanho nesse desequilíbrio, nesse constrangimento social.Também sou projeto de mim, por vezes anacrônico, por vezes quimera. Quem não constroe a si não se envergonha e quem não se envergonha não é humano.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sobre cavalos não selados

Ela vem viril ,sinto cada músculo retorcido e esticado na cavalgada de sua força. Forte como tudo que é natural. Devia domesticá-la, não aceitar que ela me leve às palavras impensadas, às ofenças gratuitas e aos socos na parede .Um processo endógeno agressivo , um câncer que corrói minhas horas e meus dentes, uma doença crônica.Uma parte de mim, meu pecado capital. Enfrento a  ira com a própria ira, então ela vence novamente, plácida por hipocrisia, complacente por sobrevivência...

4, 3, 2, 1...

Depois de um longo tempo sem escrever notei que a palavra não dita nos imudece mais que o pensamento não pensado.É um calar-se vonlutário, um auto punir-se , não torna-se verbo contentando-se apenas  em ser carne. Não gosto de justificativas para a realização de ações, elas deveriam apenas ser, para além de qualquer razão, mas um mal moderno recoa em nossos tempos e a explicação- que nada mais é do que achar razões- me leva a dizer que esta apresentação é necessária.
Escreverei aqui para me despir com toda verdade que puder, não sou poeta, não sou cronista, a única coisa que sei é que sou das palavras, elas construiram tudo que sou, porque eu também sou discurso, é nele que me reconheço.
Desculpe leitor os erros gramaticais, as palavras mal colocadas , talvez um certo narcisimo e claro tantos assuntos que por vezes parecem obsoletos, mal analisados e irrelevantes,aqui é apenas mais um lugar, sou só mais uma porta voz das sensações, ouça me se achar que lhe faz bem

Abraços
Chris