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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A vida como recorte

Sempre me incomodei com a prática científica que consiste na pretensão de recortar a realidade, transformá-la em teoria para explicar essa mesma realidade. Essa tentativa me parece tão contraditória como tentar explicar o comportamento humano através da observação de um só homem.
Este incômodo estendido à vida , às nossas perspectivas me remeteu diretamente a tomada de posição . Posicionar-se sobre qualquer que seja o assunto; Direito, política, filosofia, estética etc.Sempre cobrei pureza ao me posicionar, sempre quis de mim um conhecimento absoluto do fato,da tese... de suas contradições, contra posições, consequências e fundamentos.O posicionar-se é definir-se ante as coisas e os seres, é escolher aquilo que lhe parece mais verdadeiro, melhor ( porque também inclui valor e moral - mas isso é outro assunto). Quando nos posicionamos definimos quem somos, e sempre trabalhei para que o meu posicionamento fosse o mais coerente e fundamentado possível. No entanto ( pode começar uma frase com "No entanto"? sou péssima em regras gramaticais), percebi que essa pureza é impossível, e depois de grande resistência procuro em quê me definir, qual minha postura diante do Direito, qual minha inclinação política, minha postura filosófica e meu julgamento acerca do belo.
Não sinto de forma alguma que isso seja uma espécie de derrota, mas uma permissão humana cuja prática tende a ser mais enriquecedora do que a negação de perspectiva.
A definição do meu olhar não é rígida por ter assumido um foco, antes é esse ponto que me fará observar o entorno, que me dará a perspectiva necessária para que eu note o conjunto do enquadramento. O posicionamento é um recorte, mas quando flexível,  me fornece a identidade fazendo com que eu note a diferença. Um processo de desenvolvimento constante que abole a alma à deriva.

* Essa divagação toda começou devido a uma frase que li pichada no muro de um viaduto na Av. Antônio Carlos em BH em um dia de congestionamento : "A pureza não existe". Fica aqui minha homenagem ao pichador desconhecido!
* Também me fez lembrar de escrever este post uma frase do meu antigo professor de Filosofia do Direito no twitter!

4 comentários:

  1. Muita angústia teórica para uma pessoa.Calma garota, seus textos apontam para um bom caminho.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Olá Cris, como vai? Percebo que existe uma preocupação de sua parte em querer fazer consolidar uma ética compatível ao seu ser, àquilo que faz você ser o que é. Tal impossibilidade, naturalmente, vai depositar angústias em você, como essa que está descrita de modo precioso. Em meio aos congestionamentos, nesse estado em que nada é possível, costumo me lembrar de uma máxima de Proust, sábio como era, de que "... sentimos em um mundo e nomeamos em outro". Como será adotar uma ética compatível com tal contexto? São desconfortos dos mais urgentes e essenciais esses que você descreve.

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  4. Tudo bem Ricardo!Essa preocupação é constante, uma coerência vital.Muito obrigado pelos comentários sempre carinhosos!

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